Tudo por uma fotografia | Um dos lados negativos do turismo

Hermitage

Esta fotografia foi tirada no Hermitage em São Petersburgo, um dos museus mais visitados do mundo. A atitude destas pessoas representa, na minha opinião, um dos lados negativos do turismo, com o qual não me identifico nem compreendo.

Segundo pude observar faziam parte de um grupo enorme, algo bastante usual nesta cidade, principalmente nos pontos mais turísticos, como nunca assim vi noutro local. As excursões estavam por todo o lado. Nada contra grupos e nada contra turistas obviamente, afinal, eu também ali estava! O problema é o comportamento de certas pessoas em determinados locais e a sua falta de respeito para com os demais, bem como o pouco ou nenhum cuidado com o património do país que visitam.

Muitas destas pessoas empurravam-se entre si e a outros visitantes do museu que calmamente o apreciavam, andavam aos encontrões de sala em sala, tropeçavam-se, acotovelavam-se e um deles chegou mesmo ao ponto de cair, tudo por uma fotografia. Pareciam completamente loucos! Foram várias as vezes que os vigilantes do museu se viram obrigados a chamá-los à atenção uma vez que pareciam crianças mal comportadas! E não foi só aqui que assisti a este “filme”, pois o seu comportamento era idêntico tanto no interior de outros museus como na rua. Por isso, posso dizer que nalguns sítios, mas principalmente aqui no Hermitage, a visita revelou-se muito pouco tranquila enquanto tivemos de partilhar os mesmos espaços.

Julgo que para alguns pouco importa o que estão a ver, o que determinada obra representa ou o que a mesma significa. Já não chega a câmera topo de gama, é igualmente imperativo tirar fotos com o telemóvel, da esquerda, da direita, de frente, na vertical e na horizontal, de todos as peças e cantos do museu. Vale tudo por uma fotografia (neste caso muitas!) que muito provavelmente depressa ficará esquecida, após a sua exibição a amigos e família.

No regresso a Portugal, ainda em São Petersburgo mas já a caminho do aeroporto, desabafei com a transferista dizendo-lhe que tanto ali como em Moscovo, haviam muitas excursões e que nalguns casos tornava-se um pouco difícil conviver com elas. Então ela disse-me que é cada vez mais fácil visitar a Rússia e que o turismo tem crescido muito. Por isso, tem-se verificado o aumento das excursões e em grandes dimensões oriundas das mais variadas partes do mundo mas infelizmente, nalguns casos, existem pessoas que não respeitam o povo local, os outros turistas ou o património, não estando em causa a nacionalidade mas sim as suas atitudes, que pioram quando se deslocam em grupos grandes.

Já é mau quando alguém não se comporta de forma civilizada no seu próprio país, é igualmente mau ou pior quando faz o mesmo no país que visita. Eu amo fotografar, sou mesmo capaz de dizer que não vale a pena viajar se a minha máquina fotográfica não for comigo, mas para tudo há limites. Sou da opinião de que se deve respeitar sempre as regras do local e não “empatar” nem desrespeitar ninguém enquanto se está a fotografar, mas infelizmente ainda há quem não tenha o mesmo cuidado.

Vivemos numa época em que pouco importa ver e sentir, o que importa é mostrar. O que se passou neste museu passa-se em tantos outros locais idênticos, com muitas outras pessoas das mais distintas nações ou culturas. Torna-se quase impossível assistir um concerto sem ter um smartphone ao alto a turvar-nos a visão ou caminhar sem nos depararmos com o selfstick esticado ao virar de cada esquina.

Conseguirá alguém apreciar verdadeiramente uma viagem, ou qualquer outra experiência, vendo constantemente a realidade através de um ecrã?

 

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14 comentários

  1. Olá Sandra,
    Realmente criou um bom momento de reflexão, do caminho assustador q a sociedade está a tomar. Nos últimos tempos, não sei se por mais interesse da minha parte também, parece q o turismo se tornou uma moda, que pelo menos é uma realidade mais frequente. E isso traz muitas vantagens, mas também desvantagens… como tudo! Mas o pior é que nos apercebemos q é fácil a nível global as pessoas tenderem no caminho da aparência e redes sociais, não há o estímulo em apreciar o momento. Parece que tudo tem de ser gravado numa imagem e partilhada porque senão perdemos a memória. Prevê-se até num futuro próximo que tudo isso ainda seja mais facilitado, com tecnologias que fotografam constantemente a nossa vida. É assustador.. Tenho visto a série “Black Mirror” e, apesar de ser, de certa forma, o pleonasmo e crítica forte do q aqui se falou, é com exemplos como o seu que a possibilidade dos extremos acontecerem parece mais real.
    Obrigada pela reflexão e continue!

    1. Olá Catarina, já me falaram várias vezes dessa série, vou ter de reservar algum tempo para a ver! Parece que a verdadeira essência das coisas se está a perder infelizmente, cada vez mais o mundo é somente o das aparências! Beijinhos e obrigada pelo comentário!

  2. Muito interessante este post.
    Viagem por a Europa durante o ano que passou e senti que em alguns casos era mesmo isto: fazer tudo por uma fotografia e não apreciar o momento.
    Só há necessidade de dizer e mostrar que estivemos lá, quando isso não deveria ser o mais importante.
    Na semana passada fiz esta reflexão por mim própria e percebi que eu também o fazia em algumas situações, sem claro entrar no ridículo do exemplo que deste e aproximei-me mais da ideia de realmente aproveitar o momento e ter memórias para mim que realmente documentem essas experiências sem serem abusivas para os que me rodeiam.
    Estas vontades que também as redes sociais e a pressão social também nos dá 😀

    1. Obrigada Edna, tens toda a razão. Apreciar o momento é muito mais importante, bem como perceber o momento certo para parar! Beijinhos.

  3. Há poucos dias assisti um vídeo que fala sobre turismofobia, um fenômeno que vem acontecendo em cidades extremamente turísticas como por exemplo Barcelona e Veneza. As pessoas estão se mudando dessas cidades porque não conseguem viver com a quantidade de turistas atrapalhando a rotina delas. Os preços de aluguéis ficam absurdos, as pessoas não conseguem chegar no trabalho com tranquilidade, enfim, um caos. Eu adoro quando vou a museus que não permitem fotos porque assim posso apreciar as artes com mais calma. As redes sociais realmente transformaram o comportamento das pessoas. O fotógrafo Martin Parr faz uma crítica muito interessante aos turistas por meio de suas fotos, chega a ser bem engraçado de tão patético as cenas que ele captura.

    1. Eu compreendo que em muitos países o turismo seja indispensável para a economia do país mas também é necessário pensar nos que vivem lá e encontrar um ponto de equilíbrio para que seja possível circular com alguma tranquilidade e respeitar a população local. Obrigada pela dica do fotógrafo, vou acompanhar!

  4. Tropecei neste blog através da nova rubrica da Sofia do Monochromatic Wave e não pude deixar de comentar este post! Partilho a tua opinião, vivemos cada vez mais num mundo em que a maioria das pessoas só se preocupam em partilhar nas redes sociais sem apreciar o verdadeiro momento. Este post fez-me recordar uma situação que vivi num museu em Milão, em que foi praticamente impossível ver a exposição com calma porque toda a gente “atropelava-se” para tirar a melhor fotografia, não fosse um dos quadros da exposição a Mona Lisa que eu juro que praticamente não vi, não consegui ver. Há uns tempos tive no palácio da Pena e foi o mesmo filme, cheguei a comentar com o meu marido a falta de civismo das pessoas…enfim, é realmente muito triste ver como as redes sociais andam a afetar o ser humano.

    Um beijinho

    1. Olá Cláudia! É verdade, nos museus é algo recorrente a loucura das fotografias… No Louvre para ver a Mona Lisa também foi quase impossível por causa dos braços no ar, ainda para mais o quadro é pequeno, o que dificultou mais! O problema está precisamente com a falta de civismo e o exagero… Beijinhos e obrigada pelo comentário 🙂

  5. Concordo contigo e, por mais que capturar momentos seja importante, é triste ver pessoas que vão aos museus exclusivamente para tirar fotografias às obras de arte e pouco sequer as sabem apreciar no momento.
    Deixa-me sempre com um sabor estranho na boca quando vejo isso acontecer e infelizmente distrai-me imenso do momento também.

    http://pt.witkonijn.net/

  6. Em Moscovo e em São Petersburgo não senti isso (talvez tenha tido sorte?), mas em Pequim foi absolutamente terrível. Na Cidade Proibida toda a gente empurrava e passava à frente para tirar uma fotografia (uma não, várias, tiravam 30 mil fotografias à mesma coisa em diversas perspectivas). Eu ali a querer ver e sentir toda aquela maravilha e só tinha máquinas e pauzinhos de selfie à frente. Nunca senti tanta vontade de desatar ao estalo a toda a gente…

    Enfim, infelizmente compreendo muito bem o que passaste. No entanto, não te sei dizer o que se passa na cabeça das pessoas que têm esse tipo de comportamento. A fotografia é mesmo só para mostrar? É para dizer a toda a gente “eu estive aqui”, mas sem se preocuparem em saber nada sobre aquele local e a história que o envolve? O mais provável é que seja isso mesmo, mas não estando na mente das pessoas não podemos ter a certeza 😛 Agora fiquei curiosa, haverá algum estudo sobre isso?

    1. Olá Catarina! Não sei se há algum estudo sobre isso mas que é um fenómeno estranho é, ou talvez não seja assim tão estranho e seja apenas o fenómeno da natureza humana a vir ao de cima no campo do exibicionismo e da falta de respeito pelos outros 🙁 É mesmo irritante! Beijinho **

  7. Gostei mesmo muito de ler esta tua publicação, Sandra! É um tema que já discuti várias vezes com algumas pessoas próximas e um mal destes tempos modernos que só vejo agravar-se.

    Para mim viajar sem a minha câmara também seria um pesadelo! Cada fotografia que guardo das viagens que vivi é preciosa para mim, e saber que posso revê-las e relembrar detalhes que a memória poderia apagar é tão bom! Mas procuro fazê-lo com moderação, e nunca deixo de realmente experienciar e apreciar aquilo que estou a ver.

    Também já presenciei algumas situações que me tiraram do sério, semelhantes às que descreves. Acho que boa parte se deve à ânsia da partilha nas redes sociais. Essa ânsia de se mostrar que se fez, que se esteve lá, como se isso desse status, sei lá… E não estou obviamente a criticar essa partilha, eu própria o faço, claro, e essa partilha é positiva, o que não é positivo é a forma como algumas pessoas o fazem e aquilo que perdem ao não viver mais essas experiências!

    Um beijinho,

    Sofia | Monochromatic Wave

    1. Olá Sofia! Quando escrevi este artigo fiquei um pouco reticente em publicá-lo pois não queria ferir suscetibilidades mas, no fundo, não passa de uma opinião e de uma constatação da realidade. Julgo que tudo deve ser feito com moderação e a fotografia não é exceção. Vivemos em conjunto com outras pessoas e não temos o direito de as incomodar para satisfazer um capricho. Fico contente que tenhas compreendido o meu ponto de vista e que concordes com ele. Beijinho grande e um excelente fim-de-semana!

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