Amesterdão não é só a capital da Holanda, é também uma das mais belas cidades da Europa, de estilo particularmente singular. Todos já ouviram falar das suas casinhas inclinadas, dos seus canais, das bicicletas e do Bairro Vermelho. É impossível ficar indiferente a esta cidade tão diferente de todas as outras, não só visualmente mas também pelo espírito descontraído e de liberdade que ali se vive.
Apesar de já ter estado anteriormente na Holanda duas vezes, dessas esta foi a primeira que visitei Amesterdão a sério pois da última vez apenas tinha estado apenas uma tarde que pouco deu para ver. Desta vez fomos 3 dias e ficámos hospedados num apartamento no Excellent Rooms Amsterdam, apenas a cerca 15/20 minutos a pé do centro e com elétrico a uns 2 minutos a pé. O dono era super simpático e fomos muito bem recebidos.
Tive sorte com o tempo visto que apesar de estar muito frio esteve sempre sol. Como tinha comprado o Amsterdam Card que inclui os transportes públicos andei algumas vezes de elétrico para me deslocar para alguns locais mais afastados mas o centro da cidade faz-se bem a pé. Há quem diga que a verdadeira experiência é andar de bicicleta como os holandeses mas se querem que vos seja sincera eu não aconselho: primeiro porque para eles a bicicleta é um meio de transporte como uma mota ou um carro e as vias destinadas para ciclistas não são para os turistas passearem; segundo porque para quem não está acostumado a andar de bicicleta nas cidades vai com certeza ouvir uns palavrões de quem quer chegar a horas ao trabalho e tem um “totó” a empatar. Mesmo a pé é preciso ter cuidado, depressa nos descuidamos e levamos com um bicicleta em cima, por isso muita atenção!
Passando ao que interessa, selecionei para ti alguns locais a visitar e construí um roteiro de 3 dias para que possas desfrutar do melhor que Amesterdão tem para te oferecer. Todos os monumentos indicados tem entrada gratuita com o Amsterdam Card à exceção da Casa de Anne Frank. Vamos então saber o que ver em Amesterdão em 3 dias?
Dia 01
Free walking tour
Nada melhor que começar por um walking tour logo pela manhã para conhecer a história da cidade, locais imperdíveis e muitas curiosidades. Eu reservei o tour aqui e nosso guia foi super simpático. Começámos o passeio pela principal praça de Amesterdão, a praça Dam e seguimos por entre ruas e canais. Descobrimos porque não há mendigos nas ruas, porque existem luzes azuis em algumas montras do Bairro Vermelho, como foi construída a cidade, como funciona a venda de drogas nas famosas coffeeshops, porque é que as casas são inclinadas e muito mais.
Westerkerk
Terminado o tour e porque já tínhamos visita marcada para a Casa de Anne Frank às 13:45 fomos visitar uma igreja, ali bem perto. A Westerkerk é um dos símbolos de Amesterdão e a sua torre eleva-se aos 87 metros de altura sobre a cidade. Rembrandt foi aqui sepultado em 1669 mas ninguém sabe muito bem onde. Quem conhecer a história de Anne Frank sabe que ela ouvia uns sinos tocar desde o anexo onde estava escondida a poucos metros dali, esses sinos eram desta igreja.
Casa de Anne Frank
“Eu sei o que quero, tenho um objetivo, tenho uma opinião, tenho uma crença e um amor.”
O Diário de Anne Frank foi dos primeiros livros “a sério” que li na minha juventude e o qual me marcou muito por motivos óbvios para quem o conhece. Desde que soube que era possível visitar a casa desta doce jovem, sempre foi algo que ambicionei fazer. Infelizmente da primeira vez que que visitei Amesterdão não pude fazê-lo pois já na altura a fila era interminável, por isso, se estás a pensar visitar este local não te esqueças de reservar a tua entrada com antecedência e não arrisques em comprar o bilhete (9€) no próprio dia.
No interior podemos percorrer as divisões por onde outrora a Anne e a sua família, juntamente com outras quatro pessoas, se esconderam dos nazis durante a Segunda Grande Guerra e cujo único sobrevivente foi o pai de Anne – Otto Frank. Este é um local carregado de tristeza onde por vezes não é possível conter uma certa emoção ao relembrar a pequena Anne bem como todos os outros inocentes que acabaram por ter um destino semelhante. As divisões estão quase todas vazias pois quando o “Anexo” foi encontrado, os nazis esvaziaram-no e assim permaneceu até aos dias de hoje a pedido de Otto. Mas, para que os visitantes pudessem saber como a casa estava mobilada, Otto solicitou a construção de maquetes quando a casa de tornou um museu, as quais podemos observar no local.
Podemos ainda ver aqui o diário original escrito por Anne, deixado para trás aquando da sua deportação. O diário foi encontrado por Miep Gies, que o guardou e o entregou a Otto Frank quando ele regressou, depois de saber que Anne jamais voltaria uma vez que acabou por morrer em fevereiro de 1945 no campo de concentração de Bergen-Belsen. O pai de Anne decidiu então publicar o diário da filha em 25 de junho de 1947 e empenhou-se em tornar o esconderijo num museu, aberto deste 1960.
Ons’Lieve Heer Op Solder (Our Lord in the Attic)
Quem diria que dentro de uma casa normal, igual a tantas outras se esconde uma igreja? Pois é, esta igreja clandestina situa-se dentro de uma casa numa rua do centro de Amesterdão sem que nada o faça parecer. Mas porque é que uma igreja haveria de estar escondida no sótão de uma casa? Para explicar temos de recuar ao século XVII no qual não era possível os cristãos manifestarem a sua fé publicamente, logo, tinham de o fazer clandestinamente e este era um desses locais. No interior deste edifício podemos não só visitar a igreja mas também os aposentos de um típico comerciante da Idade do Ouro. A igreja ainda hoje é usada para casamentos, por exemplo.
Oude Kerk
Situada no meio do Bairro Vermelho, a Oude Kerk é o mais antigo monumento de Amesterdão. Inicialmente era apenas uma igreja onde inclusivamente Rembrandt se casou, mas agora é mais que isso. Atualmente alberga frequentemente exposições e também pode ser alugada para eventos variados.
Casa de Rembrandt (Rembrandthuis)
Viveu nesta casa uma das mais importantes figuras da arte europeia, o famoso pintor holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn, entre os anos 1936 e 1658. Aqui podemos observar a coleção quase completa das suas gravuras mundialmente famosas ou assistir a pequenas demonstrações diárias das suas técnicas de produção de pinturas e gravuras. A casa encontra-se decorada com móveis e obras de arte do século XVII, baseado num inventário da época.
Bairro Vermelho (Red Light District)
Bairro Vermelho, Bairro da Luz Vermelha ou Red Light District é o nome de um dos bairros mais conhecidos do mundo e cuja história não é recente. Foi em plena Idade Média que apareceram aqui os primeiros bordéis com montras que perduram até aos dias de hoje. Esta é uma das zonas mais turísticas de Amesterdão e claro de visita obrigatória, principalmente à noite. É também uma das zonas mais seguras da cidade mas atenção, não te deixes levar pela tentação de fotografar as “meninas” nas montras pois podes-te meter em problemas uma vez que é proibido, além disso há que ter os habituais cuidados com carteiristas e procurar andar pelo menos em grupos de dois. Na Holanda a prostituição é legal e é uma profissão como outra qualquer.
Dia 02
Museu Van Gogh
Este museu praticamente dispensa apresentações pois o próprio nome já revela de que se trata. Gostei particularmente do facto de a exposição seguir, por ordem cronológica, a vida do artista, desde as suas primeiras obras aos 28 anos, idade com que começou a pintar, apesar de já fazer alguns desenhos desde criança. De saúde frágil, física e psicologicamente, Van Gogh era uma pessoa depressiva e que sofria de alucinações. Um dia chegou até a cortar parte da sua própria orelha durante uma discussão com um amigo e em 1890 acabou por se suicidar, afundado na sua tristeza, apenas 11 anos depois de se ter afirmado como pintor. Infelizmente, assim como tantos outros artistas, o seu trabalho não foi reconhecido em vida e Vincent acabou por morrer considerando-se um fracasso por nunca ter recebido os devidos aplausos que tanto merecia.
Van Gogh foi especialmente importante no movimento pós-impressionista e os seus quadros são como que “fotografias” de si e da sua própria vida, das suas alucinações e da sua forma de viver o mundo. Por ser um artista que retratou várias vezes a sua vida é que acho o museu tão interessante, deste modo podemos acompanhar as várias etapas da mesma, através das suas próprias obras ali expostas.
Dentro do museu não é possível fotografar salvo em alguns locais devidamente assinalados. Aconselho-te a ires cedo ou talvez mais a meio da tarde pois as filas costumam ser grandes.
Stedelijk
O museu Stedelijk é o mais importante museu de arte moderna e design da Holanda. Além das exposições temporárias, podes aqui encontrar obras que vão do iluminismo ao expressionismo, passando pelo cubismo, por exemplo. Não te esqueças de reparar na sua forma por fora, uns amam outros odeiam, porque parece uma banheira!
DICA: Aqui se a fome já estiver a apertar, aproveita para visitar o Bagels and Beans pois servem umas sandes maravilhosas aqui bem perto do museu Van Gogh e do Stedelijk.
Verzetsmuseum (Museu da Resistência Holandesa)
A Holanda esteve ocupada pela Alemanha nazi de durante cerca de cinco anos. Durante esses anos as dificuldades foram imensas mas, mesmo assim, havia quem se insurgisse contra os nazis e, com grande valentia, formavam a Resistência. Este museu transporta-nos para esses tempos de forma interativa e detalhada. As paredes, recheadas de fotografias e documentos, os objetos expostos e os filmes que rodam, mostram-nos como era o dia a dia e a coragem daqueles que tentavam combater e resistir aos nazis, em condições tão difíceis, uns verdadeiros heróis.
Museu Marítimo Nacional (Nederlands Historisch Scheepvaartsmuseum)
No século XVII a Holanda era um dos mais poderosos países do mundo principalmente graças ao seu poderio marítimo, não havendo outro país com tamanha frota navegando pelo mundo fora. Este museu mostra isso mesmo de forma bastante interativa e completa, aqui podes inclusivamente entrar numa réplica de um barco da Dutch India Company, o De Zeereis, e ver como transportavam os mantimentos, como cozinhavam os alimentos, como dormiam ou como se defendiam, por exemplo. Visitar este museu revelou-se uma agradável surpresa.
NEMO Science Museum
Confesso que vim a este museu só por causa da vista, mas já que lá estava aproveitei para entrar, no entanto como estava mesmo a fechar, só deu para ficar uns 15 minutos o que no fundo não deu para ver nada pois o museu é enorme e cheio de experiências para ver e fazer. Julgo que para ver todo o museu com atenção deveria ser preciso uma tarde inteira mas como não é o tipo de museu que me diga muito, acabei por não ficar triste por não o poder ver convenientemente uma vez que o que realmente queria era apreciar a vista sobre a cidade.
Cruzeiro pelos canais
Já eram umas 18h quando apanhei o barco junto à Estação Central, pronta para descansar um pouco as pernas e ver Amesterdão de outra perspectiva e digo-te que este passeio pelos canais é absolutamente imperdível! Como a noite começava aparecer com ela as luzes iam-se ligando e o dourado do final da tarde dava um toque especial à paisagem. Por isso, não hesites em dar este pequeno passeio.
https://youtu.be/ZC-VEjSFEi4
Dia 03
Mercado das flores (Bloemenmarkt)
O dia começou solarengo e colorido, não estivéssemos nós logo pela manhã no Mercado das Flores que se estende ao longo do canal Singel. Funciona há mais de 150 anos e é único no mundo pois não existe em mais lado nenhum outro mercado de flores flutuante! Aqui existe todo o tipo de flores, vasos, sementes e, claro, os famosos bolbos de tulipa. E falando de tulipas aproveito para te contar que as tulipas chegaram à Holanda aproximadamente em 1600, em época de grande prosperidade e eram famosas entre as pessoas mais ricas. A tulipas acabaram por chamar à atenção de todos pela sua variedade de cores e feitios e as pessoas competiam para ver quem tinha as tulipas mais bonitas, colecionando as que eram mais fora do vulgar. Além disso, nenhuma das casas dos bons comerciantes da época estaria completa sem uma coleção de tulipas!
Museu Van Loon
Sabes aquelas casas lindíssimas e super requintadas, recheadas de obras de arte e decoradas com os mais luxuosos tecidos e tapeçarias? Esta é uma dessas casa que parece saída de um filme. Construída em 1672, o seu primeiro residente foi o pintor Ferdinand Bol, um discípulo de Rembrandt. No século XVIII a casa foi adquirida por Willem van Loon, um dos fundadores da Dutch East India Company VOC, que a ofereceu como prenda de casamento ao seu filho Willem Hendrick van Loon. Em 1973 a casa foi aberta ao público sendo que a família van Loon continua a habitá-la. Gostei especialmente da sala com vista para o lindíssimo jardim, bem como do “Quarto do Barco” utilizado para hospedar as visitas.
Museu Willet-Holtheysen
Mais uma elegante e requintada casa, uma verdadeira casa de canal. Construída no final da Idade do Ouro, no ano de 1687. A casa pertenceu aos abastados Abraham Willet e Sandrina Louisa Holthuysen, então marido e mulher. A casa e as suas extensas coleções de arte foram deixadas à cidade de Amesterdão, transformando-se então em museu em 1896.
Hermitage
Sim, também há um Hermitage em Amesterdão! Este museu faz parte do “verdadeiro” Hermitage de São Petersburgo e tem quase sempre exposições temporárias muito interessantes. Na altura em que estive neste museu estava a decorrer uma exposição sobre os Romanovs e a Revolução Russa. Investiguem se existe alguma exposição que vos agrade no momento pois do que vi desta exposição e do que já li de outras são sempre muito boas e muito detalhadas.
Neste caso, sendo uma exposição sobre a queda da dinastia Romanov e consequentemente o fim da era dos Czares e como adoro a grandiosa história da Rússia, não pensei duas vezes, fui ver e não e não me desiludiu, ainda para mais estava incluída no Amsterdam Card! Com esta exposição pudemos compreender melhor os motivos que levaram à queda do último Czar da Rússia, Nicholas II, e a consequente Revolução Russa de 1917, levada a cabo pelo Partido Bolchevique comandado por Lenine, que mais tarde iria transformar a Rússia na União Soviética, o primeiro país socialista do mundo, um marco histórico de extrema importância.
Woonbootmuseum (Houseboat Museum)
Em Amesterdão como de resto em toda a Holanda existem muitas pessoas que vivem em barcos nos canais e este barco é um deles. Querem saber como é viver num barco? Então é só visitar este museu. Além de poderes descobrir o interior do mesmo, vais ainda aprender como é a vida num barco e como é feito o abastecimento de água potável e de eletricidade, por exemplo.
Passear pelas ruas
Para finalizar em grande nada melhor que apenas passear e aproveitar a beleza dos últimos momentos na cidade mais liberal da Europa!
Até à próxima!
2 comentários
Os meus preferidos foram a casa da Anne Frank e o museu Vang Gogh, recomendo imenso os dois 🙂
Olá Inês esses também foram os meus preferidos!