Decidi viajar para a Rússia após visitar a Berlim em setembro de 2015. Depois de toda aquela “injeção” de história e percebendo melhor as diferenças entre o ocidente e o oriente durante a Guerra Fria e a batalha entre a URSS e a Alemanha durante a Segunda Guerra, eu queria ver “o outro lado” e contemplar a sua beleza, pelo que optei por visitar Moscovo e São Petersburgo.
A Rússia está envolta num grande misticismo e olha-se com relutância para este país. Confesso que antes de partir estava com algum receio. Este medo é causado pelo desconhecimento, pela ideia de que é perigoso, porque quase ninguém fala inglês, etc., mas principalmente pelas coisas que se leem por essa internet fora, como se fosse certo que nos fosse acontecer algo de muito mau.
Milhares de turistas visitam a Rússia todos os anos, mas acredito que a maior parte vai através de excursões. Quando se vai em excursão tudo está organizado, levam-nos do hotel para os museus, não temos de nos preocupar muito. Já quando se viaja por nossa conta tudo é definido e tratado por nós. Temos a liberdade de escolher onde ir e onde ficar. Para mim é algo muito mais natural. Uma viagem preparada com base no nosso estudo e no nosso esforço tem outro gosto, apesar de ter chegado a ponderar marcar tudo com uma agência, pelo menos viagem e alojamento. Quero com isto dizer que, provavelmente, se tivesse escolhido viajar para a Rússia através de uma agência com tudo organizado, o receio e as preocupações poderiam ser menores mas também não iria desfrutar da mesma forma certamente. Afinal, o medo e o risco também fazem parte.
Viajar para a Rússia: como planear?
01. Pedir o passaporte
Neste site tem todas as informações necessárias. Eu pedi numa Loja do Cidadão e paguei 65€.
02. Marcar os voos
Reservei através da Vueling depois de pesquisar na Momondo a opção mais vantajosa.
03. Reservar alojamento
Marquei no Booking.
04. Estudar russo
Diria que para quem vai viajar para a Rússia é obrigatório aprender pelo menos o alfabeto cirílico, mas aconselho vivamente a estudar algumas expressões básicas, pois em muitos locais não existem indicações em inglês e a maior parte das pessoas, principalmente mais idosas, não falam outra língua que não o russo.
Existem muitos sites onde aprender russo gratuitamente. O Russian For Free e o Russian Made Easy são apenas alguns exemplos que me foram muito úteis. As pessoas vão dar muito valor ao teu esforço quando perceberem que consegues dizer algumas palavras em russo.
05. Tratar do visto
Talvez este seja o passo mais complicado, a seguir a aprender russo (eheh) mas explico tudo aqui.
06. Reservar os transfers
Como os voos de chegada e partida eram de madrugada não foi possível utilizar os usuais serviços de autocarro ou metro, pelo que tive de requisitar um serviço de taxi (Lingo Taxi).
07. Pesquisar muito sobre o que ver
Além de ter comprado um guia foi também muito útil, como sempre, a informação que encontrei em alguns blogs e sites de viagens.
08. Trocar euros por rublos
Troquei todo o dinheiro numa casa de câmbios antes de partir.
09. Comprar a viagem de comboio de Moscovo para São Petersburgo
Uma vez que ia chegar à Rússia por Moscovo e regressar por São Petersburgo, quis deixar já a viagem de comboio entre as duas cidades tratada. Tentei marcar pelo site oficial, tudo bem até ao momento de pagar pois nenhum cartão dava. Após vários contactos com o banco percebi que não iria ser possível por aqui e tive de marcar por um intermediário (Russian Train), ficou um pouco mais caro, mas deu para comprar e tudo correu bem.
E chegou o dia!
Depois de uma longa espera o dia por que tanto esperava chegou. Nunca me senti tão contente antes de uma viagem! O misto de incerteza e curiosidade tinha-se apoderado de mim. Os 3700 kms que separam o Porto de Moscovo foram feitos de forma entusiasta mas morosa. Partimos do Porto a meio da tarde e só chegámos a Moscovo às 5h da manhã, já o sol raiava no horizonte.
No aeroporto estava à nossa espera para nos levar ao hostel um senhor com os seus 70 anos, um moscovita que tinha trabalhado muitos anos no Equador ao serviço da União Soviética. Tínhamos que lhe fazer algumas perguntas e obviamente uma delas era sobre a polícia russa. Isto porque praticamente em todo o lado se diz que temos de nos afastar da polícia a todo o custo, com histórias de polícias a ficarem com passaportes, polícias a levar pessoas para a esquadra sem mais nem menos, polícias isto e aquilo.
O senhor riu-se e explicou que não havia nada a temer, que Moscovo era uma cidade extremamente segura e que ocasionalmente se poderia ver polícias a pedir os documentos devido ao flagelo da imigração ilegal. Estima-se que, só em Moscovo, aproximadamente 3 milhões de pessoas vivam. Efetivamente vê-se muita polícia pelas ruas a pedir a identificação a quem parecer mais “suspeito”.
Contou-nos ainda que tínhamos ido numa boa altura do ano pois dali a cerca de 2 semanas as paisagens verdes e coloridas passariam a amarelas e castanhas e rapidamente tudo ficaria branco, cinzento e gelado. Foi muito simpático e atencioso. Bem sei que o maior país do mundo não se pode resumir a duas cidades mas, pela minha experiência, a Rússia não é bem o que por aí se fala. Fazem-nos crer que é perigoso e que todos são antipáticos, rudes e frios criando medo e desconfiança sem justificação. Posso dizer que em nenhum momento me senti insegura ou intimidada.
A cada passo pelas suas ruas sentia-me arrepiada por tamanha beleza e imponência, por saber o que este povo sofreu, pela sua magnífica e, ao mesmo tempo, trágica história. As alusões à vitória na Segunda Guerra estão por todo lado e é mostrada com orgulho e satisfação. São constantes as referências aos tempos soviéticos, muito mais do que imaginei, principalmente nas estações de metro (lindíssimas), onde volta e meia aparece uma estátua de Lenine e onde a foice e o martelo, símbolos do Partido Comunista, surgem nos tetos quase em todas as estações. Está tudo extremamente limpo e organizado (principalmente em Moscovo), mais do que em qualquer outra cidade que já visitei. As pessoas são muito educadas, cultas e respeitam o próximo. Apesar do seu ar fechado e por vezes antipático, quando tentávamos falar em russo logo o seu sorriso se abria e tentavam ajudar com gestos, apontando ou puxando-nos pelo braço.
Não há berros, música alta ou empurrões. No metro os homens só se sentam se não houverem senhoras ou crianças de pé e vê-se que as pessoas dão valor ao que é de todos. E sim, pedimos informações a um polícia e estou aqui, sem que nada de mal se tenha passado (e ainda bem!).
Viajar para a Rússia valeu valeu cada cêntimo e cada minuto gasto. É um país pelo qual nos podemos apaixonar facilmente. Ficou profundamente marcado em mim e tenho muitas saudades. Às vezes até me emociono ao recordar! Espero voltar brevemente, quem sabe para fazer o Transiberiano, uma das minhas viagens de sonho.
Vê também os artigos sobre Moscovo e sobre São Petersburgo!
до свидания!
14 comentários
Parabéns pelo blog!
Cheguei aqui através de uma pesquisa sobre viagens à Rússia por conta própria. Não gosto de viagens organizadas, mas estou com algum receio nesta viagem, pela barreira linguística. Em todas as pesquisas leio comentários sobre a dificuldade em comunicar, o que me deixa receosa. Como vou com uma criança de 10 anos, piora este receio. Como é com a alimentação nos restaurantes? É fácil conseguirmos pedir comida, sem termos uma ementa em Inglês?
Olá Susana, muito obrigada. Fico muito contente que tenhas gostado. Alguns restaurantes têm menu em Inglês mas outros não. Por isso é que digo que é importante saber ler russo. Quanto muito o que podes fazer é instalar o alfabético cirílico no telemóvel e utilizar o Google Translator para conseguir traduzir!
Excelentes artigos, partimos amanhã para a Rússia para fazer o transiberiano. Agradeço a forma como escreves os teus artigos (simples e eficazes). Parabéns pelo blog.
Muito obrigada Bruno, espero que estejas a ter uma excelente viagem. Um dia também hei de embarcar nesse comboio!
Que agradável surpresa ter encontrado uma outra blogger de viagens da Invicta 🙂 Concordo plenamente com o que escreveste, a Rússia é um “monstro” que precisa de ser desmistificado de vez! À semelhança do que escreveste, também nós visitamos Moscovo e São Petersburgo e achamos ambas as cidades incríveis (ainda que muito diferentes uma da outra) e o povo russo bastante prestável e simpático para os turistas que os abordassem na sua língua materna. Ficamos completamente apaixonados pelo país e com a certeza de que um dia voltaremos. Viagens Felizes!
Olá Bruno, que bom partilhar desse mesmo sentimento! Vou voltar a Moscovo em outubro, vou em trabalho mas ainda vou ter 3/4 dias para poder passear!! Entretanto estive a ver o teu blog e gostei muito, vou passar a seguir! Boas viagens!
Oie, finalmente vim retribuir sua visita ao meu blog. Agora que já visitou a Rússia, precisa visitar a Ucrânia onde tudo começou. Abraços!
Estava a pensar ir este ano mas acho que não vai dar, em vez disso devo ir até à Polónia para visitar Varsóvia (vi o teu artigo e gostei muito), Cracóvia e talvez mais alguns locais!
Uma das viagem que gostava de fazer!
Tive que te seguir no Instagram, fiquei apaixonada pelas tuas fotografias!
Muito obrigada pelo elogio Ana, deixa-me muito contente o facto de teres gostado! 🙂 **
Adorei o post! Tenho uma amiga minha que é russa e que está farta de me tentar convencer para lá ir, mas ainda não me virei para aqueles lados… a minha próxima viagem será certamente na lua-de-mel e ainda não está completamente fechado, mas deveremos ir para a China e Bali. Alguma sugestão? Parabéns pelo blog, está fantástico!
http://www.asteoriasdaelsa.com
Olá Elsa! Muito obrigada pelas tuas palavras, deixam-me muito contente. Quando à ida à Rússia, não penses duas vezes e vai!! É tudo tão bonito, ainda mais tendo uma amiga russa irá facilitar bastante! China e Bali são, sem dúvida, ótimos destinos. Eu passei a minha lua-de-mel em Paris, se nunca foste também é uma boa opção, muito romântica! Tudo depende do que podes gastar e do que gostas mais (praia, cidade, campo, etc.). Muitos beijinhos e felicidades nesta nova etapa da tua vida!
Excelente post 🙂 Parabéns pelo blog 🙂
A Rússia sempre fascinou-me, desde a sua história imperial à Guerra Fria. E como sou fã de Tolstoi e da série The Americans, o meu interesse pelo país aumentou. Apesar de não concordar com muita coisa, incluindo ideais e regime político, é um país de contrastes e cheio de cultura, arte e lindas paisagens.
http://bitaitesdeummadeirense.blogspot.pt/
Caro Paulo, fico muito contente que tenhas gostado. Também não concordo com muitas das suas formas de ver o mundo e de lidar com ele mas à parte disso e como disseste, a sua cultura, arte e paisagens fazem da Rússia um país inigualável. Neste momento estou a ler o meu primeiro livro do Tolstoi, “A Morte de Ivan Ilitch”, um dia conto aventurar-me pelo “Guerra e Paz” mas muito provavelmente ainda lerei primeiro a “Anna Karenina”! Quanto à série vou ter que ver isso pois não conhecia, estive a pesquisar e parece muito interessante! Obrigada! *